FELIPE
TIAGO GOMES: O PICUIENSE DO SÉCULO
Um picuiense
Picuí, 15 de janeiro de 2011. Às 16:00h, desponta na Rua 24 de
novembro um cortejo acompanhado pela Filarmônica Coronel Antônio Xavier, pela
BAMFAC (Banda Marcial da CNEC), por diversas autoridades cenecistas, pelo
Prefeito Rubens Germano Costa, pela 1ª dama e atual deputada estadual Gilma Germano,
pelo Arcebispo da Paraíba Dom Aldo Pagotto, pelo Dr. Valdemiro Severiano, sua
esposa e por populares. A emoção toma conta de toda a avenida e, ao som do
dobrado “Adeus, Getúlio” e do “Hino Cenecista”, sob calorosas palmas, chega à
sua terra natal os restos mortais do picuiense do século Felipe Tiago Gomes e
de sua irmã Maria Gomes[1]. É
realizado seu último desejo: descansar junto aos seus, voltar ao pó que te deu
a vida. E é sobre a vida deste grande homem que este trabalho irá tratar.
Felipe Tiago Gomes poderia ter sido
mais um sertanejo pobre que, lutando por dignidade, trabalharia debaixo de um
sol ardente para garantir seu sustento e o de sua família. Poderia ter sido
mais um paraibano que, há séculos, luta contra a opressão dos poderosos, a miséria
e a desigualdade social. Mas, em sua biografia, surgiu uma palavra que mudou
toda esta história: EDUCAÇÃO. Foram estas oito letras mágicas que mudaram a
história de um homem e que têm o poder de mudar o mundo.
Hoje, as circunstâncias são
totalmente diferentes daquelas de 1935. Picuí mal tinha o Ensino fundamental e
concluir o Ensino Médio era quase que impossível diante de nossa realidade.
Atualmente, contamos com excelentes escolas[2],
de alto índice educacional, que contribuem para a formação dos nossos jovens,
possuímos uma instituição pública de Ensino Superior[3] e
nosso sistema de educação já foi reconhecido internacionalmente[4].
Se, hoje, temos tudo isto, devemos estas conquistas à luta do professor Felipe
Tiago Gomes.
Um dia, ele falou: "Quando, à noite,
sentado no terreiro da casa onde passarei a viver os restantes dos meus dias,
olhar para o céu, terei a satisfação de contemplar as estrelas e compará-las
aos milhares de amigos que fiz na minha caminhada pelo País". Ao
resgatarmos sua história, estamos reforçando as memórias de inúmeras crianças
pobres que poderiam ter um destino completamente diferente se não encontrassem
os projetos do Professor Felipe. Sem dúvida alguma, ele foi um homem de
vanguarda e que inspirou a elaboração do atual sistema educacional brasileiro.
Embarcar em sua vida, destarte, é uma aventura de saberes, mas também de
emoções.
1. A INFÂNCIA
Naquela casa simples,
Você falou pra mim
Que eu tivesse cuidado
E não sofresse com as coisas desse mundo.
Que eu fosse um bom menino,
Que eu trabalhasse muito (...)
Você falou pra mim
Que eu tivesse cuidado
E não sofresse com as coisas desse mundo.
Que eu fosse um bom menino,
Que eu trabalhasse muito (...)
Aquela casa
simples
(Roberto Carlos)
Tudo começou em 01 de maio de 1921. No sítio Barra
do Pedro, no município de Picuí-PB, nascia aquele que, mais tarde, se tornaria
o Comendador da Educação Brasileira. Filho de Elias Gomes Correia e Ana Maria
Gomes, Felipe Tiago Gomes nasceu num meio físico, econômico e social áspero. Na
zona rural do sertão nordestino, descobriu, logo cedo, as dificuldades da vida.
As tentativas de superar os dramas da seca mostravam àquele garoto o
significado da superação. E, com certeza, foi diante das respostas que ele
encontrou durante esta fase de sua vida que construiu o legado que deixou para
o povo brasileiro.
Segundo o próprio Felipe, ele passou sua infância de
pés descalços, sendo ferido pelos espinhos dos matagais secos da caatinga e com
mãos cheias de calos oriundos do trabalho com a enxada. Assim como seus pais,
era da agricultura que conseguia o seu sustento econômico. E, diante das
situações climáticas adversas, assim como muitos nordestinos, também sofreu com
a escassez.
Mesmo diante de todo este cenário nada poético, sua
família sempre teve a consciência de que era através da educação que o ser
humano firmaria um futuro digno. Quando não estava ajudando seu pai no trabalho
agrícola, o menino Felipe tinha aulas de alfabetização com sua irmã Francisca.
Ela já havia concluído o antigo primário na cidade de Picuí e repassava os
conhecimentos adquiridos ao seu irmão caçula. Em seguida, estas aulas passaram
a ser ministradas pela Dona Nativa, um exemplo de ser humano que não media
esforços para ajudar as crianças a ingressarem no mundo da leitura.
Porém, à medida que os anos iam passando, o garoto
Felipe precisava deixar seu ambiente familiar para prosseguir seus estudos na
cidade. Foi em Picuí que ele cursou o ensino fundamental, durante os anos de
1933 a 1935, na escola pública. Vislumbrando sua mente brilhante e percebendo
seu esforço e dedicação com os estudos, o professor Pereira do Nascimento, notando
que, se continuasse em Picuí, certamente, Felipe Tiago Gomes deixaria de
estudar (por falta de oportunidades), resolveu encaminhá-lo para o Colégio Pio
XI, na cidade de Campina Grande, distante cerca de 120 km de sua gente.
Neste momento, Felipe viu-se,
talvez, na situação mais difícil de sua vida. Ele sempre foi um garoto do
interior, mais precisamente da zona rural, praticamente não saia de sua cidade
e, consequentemente, mal conhecia Campina Grande. Porém, para conquistar seus
sonhos e prosseguir nos estudos, teria de abdicar de sua vida calma do interior
para viver a vida agitada da cidade grande. Não pensou duas vezes: agarrou a
oportunidade com todas as forças e partiu para Campina em busca de dias
melhores.
2. A VIDA EM CAMPINA GRANDE E AS
DIFICULDADES
Mas te confesso na saudade
as dores que arranjei pra mim
as dores que arranjei pra mim
(...)
Recordo a casa onde eu morava,
o muro alto, o laranjal.
Meu flambuaiã na primavera
que bonito que ele era
dando sombra no quintal
o muro alto, o laranjal.
Meu flambuaiã na primavera
que bonito que ele era
dando sombra no quintal
Meu pequeno
cachoeiro
(Roberto Carlos)
Ao chegar a Campina Grande, Felipe
Tiago Gomes encontra uma realidade totalmente diferente daquela que ele
vivenciava em seu pequeno Picuí. Grandes prédios, muitas pessoas e a solidão da
cidade grande poderiam ter sido motivos para que, imediatamente, abdicasse da
oportunidade que lhe foi concedida e voltasse para sua terra, para sua gente.
Mas, a busca pelo saber foi maior e, enfrentando todas as dificuldades, encarou
de frente sua nova vida.
O Colégio Pio XI era um dos mais
tradicionais do estado da Paraíba. Filhos de grandes políticos, empresários e
membros do Judiciário eram predominantes em suas instalações. O filho de
agricultor do interior do estado sofreu uma grande barreira para se integrar
neste mundo que até então não lhe pertencia. Hoje, o bullying toma conta dos
noticiários nacionais como se fosse uma novidade, porém trata-se de uma forma
de violência psicológica bem antiga. Certamente, inserido neste novo universo,
o jovem Felipe também sofreu desse mal. Mas, se nem a seca que devasta o
semi-árido nordestino conseguiu derrubá-lo, não seriam pessoas preconceituosas
e sem sentimentos que iria fazer isto.
Dedicou-se plenamente aos seus
estudos como forma de retribuir a oportunidade que lhe foi concedida, se
tornando um dos melhores alunos de sua sala. Foi no Pio XI que nosso herói
começou a desbravar o mundo através das leituras e dos conhecimentos
adquiridos. Além disso, a vida própria e distante da família fez com que ele
começasse a dar seus primeiros passos sozinho, adquirindo experiências únicas
que só a vida nos concede.
Depois de ter concluído o antigo
ginásio, foi vítima de uma das maiores dores de sua vida: perdeu sua mãe. Dona
Ana Maria Gomes, que sempre foi um exemplo para o garoto, havia partido numa
viagem sem volta. Diante das dificuldades financeiras e em meio à dor da perca
de sua genitora, Felipe, praticamente, viu-se obrigado a retornar a Picuí, já
que não tinha mais condições de se manter na cidade grande.
3. SURGE UMA NOVA OPORTUNIDADE
Quero
levar o meu canto amigo,
A qualquer amigo que precisar.
A qualquer amigo que precisar.
Eu
quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar.
E bem mais forte poder cantar.
Eu quero apenas (Roberto
Carlos)
Carregando duas dores (a morte de
sua mãe e a possibilidade de abandono de sua formação educacional), na mente
daquele jovem sertanejo, que tinha aprendido tantas coisas na cidade grande sem
esquecer suas origens, só restava agora uma solução: voltar à sua vida de
infância, trabalhando na lavoura, enfrentando as dificuldades do semi-árido e
lutando por uma vida melhor para si e para os seus.
Sabendo do ocorrido, o senhor José
Saldanha, juiz de Direito, e o dentista Dr. Morais resolveram ajudá-lo. Este o
hospedou em sua casa no Recife e aquele lhe deu auxílios financeiros para se
manter num novo estado. Felipe Tiago Gomes abraçou, mais uma vez, a
oportunidade que a vida lhe ofereceu e partiu para o Recife, tendo em vista
prosseguir em sua vida escolar.
Com o tempo, conheceu um grande
amigo chamado Everardo Luna e, convidado por ele, foi morar na Casa do
Estudante da capital pernambucana. Querendo adquirir sua independência
financeira, Felipe Tiago Gomes resolve começar a trabalhar. Inicialmente,
ocupou o cargo de porteiro e, em seguida, conseguiu se tornar bibliotecário.
Conseguindo um emprego que coincidia
com sua paixão pela leitura, foi no cargo de bibliotecário que o jovem Felipe
teve acesso a saberes diversificados que incrementaram a sua formação. Foi
também nesta biblioteca que foi-se firmando as bases do que mais tarde seria
sua grande contribuição para a educação brasileira: a CNEC. Ao ler obras como
“O Drama da América Latina”, de John Gunther, ele foi conhecendo experiências
educacionais com seres vulneráveis, seja econômica ou culturalmente, que
despertaram sua especial atenção. Será que ele poderia fazer o mesmo no seu
sertão? Mais tarde, chegou à conclusão que sim.
No ano de 1944, concluiu o pré-jurídico
e prestou vestibular para a Faculdade de Direito do Recife, sendo aprovado.
Iniciava-se, então, uma nova vida: a acadêmica.
O brilhante desempenho na sua
primeira fase educacional repetiu-se no Ensino Superior. Quando estava cursando
o segundo ano de Direito, foi escolhido como representante da turma no
Diretório da Faculdade. Felipe Tiago Gomes já começava a despertar seus dons de
liderança e representatividade que foram marcas de toda sua vida. Além disso,
dois anos depois, tornou-se Presidente do mesmo Diretório.
Sua luta, perseverança e coragem
adquiridas ao longo da vida sofrida, mas de sucesso, chamaram a atenção do
mundo acadêmico que passou a ver, naquele jovem oriundo do interior do estado
da Paraíba, um grande líder. Quando estava terminando o curso, foi eleito
presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) de Pernambuco, fato este
que intensificou sua luta em prol da classe estudantil.
Durante seu mandato, criou o Teatro
Universitário, valorizando, assim, a cultura e a liberdade de expressão num
momento fundamental da história política do Brasil[5]. O
estado do Pernambucano, que sempre foi pioneiro nas lutas sociais e liberais,
passou a contar com mais uma fonte para expressão de seus sentimentos
libertários.
4. O HOMEM PÚBLICO
Me lembro de todas as lutas
meu bom companheiro.
Você tantas vezes provou
que é um grande guerreiro
Amigo (Roberto Carlos
e Erasmo Carlos)
Não demorou muito para que Felipe
Tiago Gomes despertasse seu espírito de homem público. Na Universidade, sempre
esteve presente nos movimentos estudantis. Sua inteligência e seu caráter de
liderança chamaram a atenção do cenário político nacional. Inicialmente,
filiou-se à UDN (União Democrática Nacional) e, no estado do Pernambuco, fez parte
de um movimento de oposição à ditadura do Estado Novo implantada por Getúlio
Vargas.
Em 19 de janeiro de 1947, Oswaldo
Trigueiro, grande líder paraibano da UDN, foi eleito Governador do Estado da
Paraíba. As ligações partidárias e com a Faculdade de Direito do Recife[6]
fizeram com que o então chefe do estado nomeasse Felipe Tiago Gomes como
prefeito de Picuí. Ele ocupou o cargo entre 16 de março de 1947 e 30 de
novembro do mesmo ano. Durante seu curto mandato, foi o prefeito mais jovem da
Paraíba. Esta característica trouxe um caráter jovial e revolucionário para a
Administração Pública do município, inspirado sempre nas idéias nacionais da
UDN representadas pelo brilhante jornalista Carlos Lacerda.
Durante seu mandato, continuou
cursando Direito na Faculdade de Recife. Este foi um dos motivos que ocasionou
sua saída do cargo. O professor Felipe percebeu que não teria condições de
conciliar as duas atividades ao mesmo tempo. Como sempre, lutou pela sua
formação educacional e colocou-a, novamente, em primeiro lugar. Após o fim do
mandato, reintegrou-se à Campanha do Ginasiano Pobre (gênese da CNEC) que será
tratada no próximo capítulo.
Mesmo envolvido nesta Campanha,
ainda exerceu os cargos de integrante da Campanha de Erradicação do
Analfabetismo do Estado do Rio de Janeiro em 1950, Diretor do Departamento de
Ensino Médio da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro em 1958 e
Membro Diretor da Associação Brasileira de Educação na década de 1960, dentre
outros.
5. O SONHO SE TORNA REALIDADE: SURGE A
CNEC
Amigo, avante!
Na falange Cenecista,
Ocupa o teu lugar pelo Brasil
Com fervor de idealista:
Trabalhar, Trabalhar!
Hino Cenecista (Dulce de
Oliveira Vermelho)
Felipe Tiago Gomes sentiu na pele as
mazelas da desigualdade social. Foi um menino pobre, do interior, filho de
agricultores e que, para conseguir ter uma boa formação educacional, teve que
abandonar sua terra e sua família. Mesmo após ter vencido a grande batalha da
vida, Felipe jamais esqueceu o seu longo e árduo percurso. Foi pensando em dar
a outras crianças pobres a oportunidade que obteve que surgiu a sua maior
contribuição para a educação brasileira: a Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade (CNEC).
Embora tenha se formado em Direito,
nunca exerceu, de forma nata, a profissão de jurista. A academia tinha lhe dado
outra grande contribuição: o poder de criar mecanismos de ajudar o próximo. E
foi com este aprendizado que o professor Felipe realizou sua grande obra.
Tudo
começou em 29 de julho de 1943. Nesta data, foi fundada, na cidade do
Recife-PE, pelo nosso picuiense do século, a Campanha do Ginasiano Pobre. O seu
objetivo era oferecer um ginásio gratuito àqueles estudantes que não tinham
condições financeiras para custeá-lo. Ao longo de sua história, sua
nomenclatura sofreu diversas alterações: transformou-se em Campanha dos
Educandários Gratuitos, Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos e, por
fim, Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.
O grande sucesso da CNEC foi a
preocupação com o próximo. Nela, o professor Felipe Tiago Gomes fez questão de
prestar uma assistência educacional igualitária, independentemente de raça,
cor, sexo, religião e, principalmente, situação econômica. A CNEC sempre foi um
grande coração de mãe.
Sem dúvida alguma, trata-se de uma
das instituições mais sérias da história deste país. Afinal, são quase 70 anos
formando grandes médicos, juízes, advogados, engenheiros, educadores, enfim,
cidadãos. Sua sede atual é em Brasília-DF, porém tem ações em todo o território
nacional.
O professor Felipe, ao classificar a
CNEC como escola comunitária, inaugurou uma nova modalidade de ensino no
Brasil: buscava-se conciliar os fatores positivos encontrados em instituições
públicas e privadas. Ao nascer através de interesses das próprias comunidades,
as escolas cenecistas buscavam enquadrar-se nas realidades locais, a fim de
valorizar as práticas e costumes regionais. O sistema educacional, portanto,
era criado e comandado pela própria sociedade. Além disso, é a própria
comunidade que, conjuntamente, se responsabiliza por grande parte das despesas
de funcionamento das instituições. Logo, exercita-se o aspecto de
cooperativismo e solidariedade no âmbito local.
Além disso, os professores são da
própria comunidade, gerando emprego e dando oportunidades às potencialidades
locais. As escolas são construídas em regime de mutirão, iniciando, em regra,
pelo ensino fundamental, e evoluindo até atingir o ensino médio. Porém, o
entusiasmo de Felipe Tiago Gomes fez a CNEC ir mais além e, desde 1963, vêm
sendo criadas também instituições de ensino superior.
O papel social da CNEC é bem
diversificado. Ao longo de sua história, criou colégios agrícolas, espaços
esportivos, serviços de comunicação e radiodifusão comunitárias, política de
intercâmbio e unidades de comercialização e prestação de serviços.
O
sonho de Felipe não ficou restrito à sua pessoa. Em nenhum momento, ele usou da
CNEC para fazer promoção pessoal. Em vez disto, sempre buscou uma renovação na
diretoria, dando espaço para que ex-alunos cenecistas também pudessem gerenciar
aquela instituição que lhe deu oportunidades.
Sem dúvida alguma, a CNEC foi a
grande filha do Professor Felipe Tiago Gomes e foi graças ao seu desempenho na
sua criação e manutenção que lhe foi outorgado o título de Comendador da
Educação Brasileira. Mesmo com todo este renome internacional, Felipe nunca
esqueceu sua terra.
6. O RETORNO E AS CONTRIBUIÇÕES A
PICUÍ
Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei!...
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei!...
O Portão (Roberto Carlos)
Após se tornar um profissional bem
sucedido e ter atingido patamares dignos da sua personalidade, chegou a hora do
professor Felipe retribuir o carinho e o amor de sua terra natal. Embora já
tivesse contribuído quando assumiu o cargo de Prefeito, foi através de sua
criação (a CNEC) que ele trouxe as obras estruturantes para o desenvolvimento
do município. Diferentemente da maioria dos gestores da época que realizavam
verdadeiras indústrias da seca[7],
Felipe Tiago Gomes sempre esteve preocupado com a melhoria da qualidade de vida
do povo picuiense.
Não basta apenas destacarmos suas
obras materiais em prol de sua cidade, mas, principalmente, as imateriais,
aquelas que não são feitas de cimento e cal, mas sim de amor e carinho.
Felipe Tiago Gomes desenvolveu a
educação de Picuí, ao criar a Escola Cenecista Ana Maria Gomes (em homenagem à
sua mãe), a Fazenda-Escola e a Creche Tia Zefa. Foi também a CNEC, na pessoa de
seu fundador, que construiu o Bairro Cenecista (composto de cerca de 60 casas
na época) com a ajuda do SENAR e do SEHAC. Além disso, foram construídos o
Estádio Municipal Amauri Sales de Melo, a Rádio Cenecista, a Confecção e
Serigrafia Cenecista, o Hospital Regional Felipe Tiago Gomes, a Pousada
Cenecista, a famosa Casa da CNEC (hoje, Memorial Felipe Tiago Gomes), dentre
outras obras estruturantes do nosso município.
Foi também através da CNEC que Picuí
tornou-se, na segunda metade do século XX, conhecida nacionalmente a ponto de
receber a visita de Ministros de Estado, deputados, senadores e até um
Presidente da República: José Sarney.
Mas, foi no plano imaterial que o
professor Felipe deixou suas principais marcas. O carinho e a atenção com os
alunos cenecistas, o respeito e o cuidado com as crianças pobres e o apoio à
saúde e assistência social foram traços da sua personalidade.
A
valorização da cultura local também era preocupação constante de Felipe Tiago
Gomes. A manutenção das tradições, com a participação da CNEC em eventos como a
Festa de São Sebastião, o São Pedro e os Desfiles de 07 de setembro,
abrilhantavam e emocionavam o povo picuiense.
Além disso, grandes diamantes de
nossa terra e cidades vizinhas foram lapidados pelo Comendador da Educação
Brasileira. A professora Raimunda Souza e o professor Fenelon Luz, dois grandes
mestres de nossa terra, tiveram na CNEC a oportunidade de desenvolver seu
trabalho em prol da educação de Picuí. A Dra. Maria de Lourdes Henriques, que
em sua obra[8]
faz questão de destacá-lo como primo e grande amigo, ganhou todo o apoio do
nosso herói para colocar em prática seus projetos de ensino. O radialista João
Tavares (nosso popular J Tavares), maior profissional do Curimataú e Seridó da
Paraíba na sua área, chegou a Picuí através da CNEC e do professor Felipe Tiago
Gomes. A professora e diretora Maria Inês Dantas de Araújo, proprietária de uma
das maiores escolas da região, também utilizou as experiências com o professor
Felipe para criar um método de ensino que já levou diversos jovens picuienses
às universidades. O professor Robson Rubenilson, ex-aluno cenecista, ganha
destaque nacional pela gestão que realiza na Escola Estadual Professor Lordão,
bem como através dos Prêmios que já logrou ao longo de sua carreira docente.
A CNEC ajudou a formar diversos
médicos, juízes, promotores, advogados, engenheiros, professores, dentre outros
profissionais, que encontram na figura de Felipe Tiago Gomes um símbolo de
homem e educador. Essas conquistas imateriais são indescritíveis. Só quem viveu
e conviveu com o fenômeno cenecista sabe da sua importância para o
desenvolvimento de Picuí.
7. O ADEUS
Já está chegando a hora de ir.
Venho aqui me despedir e dizer:
Em qualquer lugar por onde eu andar,
Vou lembrar de você.
Venho aqui me despedir e dizer:
Em qualquer lugar por onde eu andar,
Vou lembrar de você.
Despedida (Roberto Carlos)
Felipe Tiago Gomes era um homem
realizado. Tinha feito de sua passagem pela Terra uma forma de auxílio para
aqueles que mais precisavam. Já idoso e sofrendo problemas de saúde, seus
últimos dias neste planeta foram na cidade de Brasília-DF. Sempre esteve ao
lado de seus familiares, a exemplo de seu sobrinho Dr. Valdemiro e de sua
inseparável irmã e companheira de toda uma vida Maria Gomes. Esta sempre
demonstrou um caráter de mulher valente e íntegra, participando, ativamente,
das atividades desempenhadas pelo seu irmão. Existia entre eles um amor
fraternal imenso e inexplicável. Foram inseparáveis até na morte, já que ela
veio a falecer 29 dias após seu irmão.
Foi no turno da tarde do dia 21 de
setembro de 1996 que uma notícia abalou a cidade de Picuí. Era anunciado na
Rádio Cenecista, a mesma que ele ajudou a fundar, o falecimento do maior
picuiense de toda a história: Felipe Tiago Gomes. Não resistindo a complicações
cardíacas, faleceu em Brasília deixando saudades em todos aqueles que havia
ajudado, seja através da CNEC, seja através de um conselho ou de um sorriso.
Cumpriu sua função na Terra. Era
chegada a hora de descansar junto a Deus e a seus pais no paraíso eterno.
8. FELIPE VIVE!
Lindo é,
Lutarmos por um mundo bem melhor
É fazer
Uma canção feliz em tom maior
Lindo é estudar
Tendo no peito a fibra de sempre vencer
É ter na alma a satisfação
de ser Cenecista de coração.
Lutarmos por um mundo bem melhor
É fazer
Uma canção feliz em tom maior
Lindo é estudar
Tendo no peito a fibra de sempre vencer
É ter na alma a satisfação
de ser Cenecista de coração.
Lindo é (Vicente Janetti
Junior)
O homem se foi, mas seu legado fica.
O nome Felipe Tiago Gomes, mais do que nunca, soa por todo o Brasil como um
símbolo a ser seguido. E é por isto que resgatar a memória deste ilustre
brasileiro se faz necessário. A iniciativa do Dr. Valdemiro Severiano de Maria
vai muito além de um desejo de sobrinho em preservar a memória do tio. Sua
iniciativa é a de um brasileiro cenecista, paraibano assim como Felipe, que
visa mostrar para as gerações que não conheceram o fundador da CNEC que os
sonhos podem se tornar realidade.
A construção do Memorial Felipe
Tiago Gomes e os projetos que o mesmo vem desempenhando servem de exemplo para
os nossos jovens de que ainda é possível construir um país melhor através da
educação. Se um menino pobre, filho de agricultores, conseguiu chegar onde
chegou, 190 milhões de pessoas de mãos dadas também podem construir um Brasil
desenvolvido, sem miséria e sem corrupção.
Virão novos Felipes, cada vez mais
idealistas, que irão dar prosseguimento à obra daquele que tanto fez pela educação
brasileira. Afinal, FELIPE VIVE na memória de sua terra, na memória de sua
gente.
REFERÊNCIAS
BOECHAT,
I. Depoimento de Ivone Boechat. Felipe
Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim03.html>.
Acesso em: 22 set. 2011.
HENRIQUES,
M.L. História de Vida - 45 anos educando.
João Pessoa: Ideia, 2003, 366 p.
HENRIQUES,
M.L. Depoimento de uma autêntica educadora cenecista a Felipe Tiago Gomes, idealizador
da Escola Comunitária no Brasil e Comendador da Educação. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível
em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim04.html>. Acesso em:
22 set. 2011.
QUEIROZ,
R. O Sonho do Professor Felipe. Felipe
Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em:
<http://www.oocities.org/felipetiagogomes/artigo02.html>. Acesso em: 22
set. 2011.
RODRIGUES,
A; SEVERIANO, F.T.L; SEVERIANO, R.J.D. A CNEC. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível
em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/historia.html>. Acesso em:
22 set. 2011.
RODRIGUES,
A; SEVERIANO, F.T.L; SEVERIANO, R.J.D. História. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível
em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/historia.html>. Acesso em:
22 set. 2011.
SILVA,
R.S. Saudades do ser humano Felipe Tiago Gomes. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível
em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim07.html>. Acesso em:
22 set. 2011.
SODRÉ,
D. Declarações feitas pelo Almirante Benjamin Sodré sobre sua atuação como
membro da CNEC. Felipe Tiago Gomes – O
Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em:
<http://sites.google.com/site/felipetiagogomes/depoimentos/dora-sodre>.
Acesso em: 22 set. 2011.
[1] O translado foi feito de
Brasília-DF, onde eles foram sepultados em 1996, para Picuí-PB.
[2]
Destacando-se a Escola
Estadual Professor Lordão, que vem conquistando, nos últimos anos, prêmios
nacionais e internacionais, o Colégio e Curso Divino Espírito Santo, uma das
escolas da região líder em aprovação no vestibular, e a Escola Municipal Tancredo
Neves, que conquistou excelentes notas no IDEB.
[3]
Trata-se do IFPB (Instituto
Federal da Paraíba) que oferece cursos de nível técnico e superior.
[4] Temos como exemplo a Escola
Estadual Professor Lordão que, através do Projeto Repensando Picuí, representou
o Brasil num encontro de estudantes do MERCOSUL.
[5] Nosso país saia da ditadura do
Estado Novo de Vargas e iniciava um período liberal conhecido como Regime
Populista.
[6] Oswaldo Trigueiro havia se
formado na mesma Faculdade onde estudava Felipe Tiago Gomes.
[7] Nomenclatura dada a obras
realizadas no semi-árido nordestino que visa, unicamente, os fatores
eleitoreiros.
[8] A obra a qual nos referimos é
“História de Vida – 45 anos educando”, onde a autora faz um traçado histórico
de sua influência na construção da educação brasileira.
Meu querido, que coisa linda! Estou emocionada em ler seu texto! Ele é digno de 1º lugar! Parabéns e continue humilde como você é. Estou muito feliz por você.
ResponderExcluirPs: Amei as músicas! São a sua cara!